O Sporting é irracional. Tem um processo diferente da razão. Viva o sonho...

sábado, 1 de março de 2014

ODE ÉBRIA AO DESFALECIMENTO DAQUELA MAGIA QUE INUNDOU O AR EM COIMBRA, FAZ AGORA SEIS MESES.



ODE ÉBRIA AO DESFALECIMENTO DAQUELA MAGIA QUE INUNDOU O AR EM COIMBRA, FAZ AGORA SEIS MESES.

Ainda estava calor em Coimbra, fim de Agosto. Num ímpeto de entusiasmo goleador, o núcleo subiu a A1. Eramos 6, mas estávamos mais, estávamos todos. O apocalipse já tinha sido, acabou com estrondo no maldito número 7. Contra todas as previsões e depois de um longo deserto de futebol, goleámos em casa, mas aí ainda se não sentiu mais que surpresa. O sorriso é difícil depois de um ano de sevícias. Mas o emigrante e o delfim estavam cá e havia que acumular Sporting para a longa apneia centro europeia. Assim fomos, à boleia da saudade que havia de ser. No caminho cometeram-se os pecados do costume. Tudo permitido pelo quente que estava ainda, desse verão que redime todas as indignidades de um país. Assim fomos, assim chegámos. O primeiro sinal de misticismo foram as filas enormes de verde e branco, vitalidade comovente contra todas as expectativas, contra toda a memória recente, contra toda a lógica, para quem ainda acha que a lógica tem alguma coisa a ver com isto. Parecia um tempo que nunca foi nosso mas que ainda assim reconhecemos. Filas da nossa cor a dar voltas ao estádio, longe, longe de Lisboa. Uma romaria, ou a minha incapacidade de escrever sobre o Sporting sem cair no hierático. Entrámos e jogávamos em casa, as bancadas engolidas por quem nelas se senta. Quatro golos depois, o cheiro mágico era denso, quase um rumor. Sentia-se qualquer coisa no ar, uma coisa que sabíamos intimamente o que era, mas que nem por dentro ousámos reconhecer. Esse odor de magia persistiu durante mais tempo depois, mas ali, naquela noite de calor redentor, foi mais intenso do que nunca. Não se sonhou, sentiu-se, quase se soube, alguns tiveram a certeza.
Depois, depois foi a realidade. Essa. A malvada. Agora, seis meses depois, um semestre de espantos, desvaneceu-se, dolorosa e lentamente. Seja, teremos sempre essa noite perfeitamente encenada no calor de Coimbra. Teremos sempre a promessa de glória a correr à solta num jogo distante. Distante de Lisboa, distante no tempo, talvez mesmo distante de nós. Ainda bem que levámos o delfim, serão dele os cheiros mágicos, que, com convicção vos digo, existirão mesmo na nossa ausência. O delfim depois arranjará maneira de nos contar.
Foi em Coimbra, há seis meses atrás, estava calor e no ar sentiu-se um cheiro inesquecível a felicidade.

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